: NONA ENFERMARIA: CLÍNICA MÉDICA: INTERVALOS DE REFERÊNCIA EM VALORES DE LABORATÓRIO

terça-feira, 19 de maio de 2009

INTERVALOS DE REFERÊNCIA EM VALORES DE LABORATÓRIO

Intervalos de referência (grosseiramente chamados de valores normais) são auxiliares valiosos para o clínico, quando ele interpreta um resultado de laboratório, buscando discernir entre saúde e doença. Porém, os intervalos não devem ser usados como indicadores absolutos dessas duas situações. Para praticamente todos os testes podem ocorrer superposições de valores indicativos da faixa normal, com os da faixa de doença. Isto acarreta dificuldades na interpretação de resultados que se acham próximos da faixa de referência, isto é, pouco aquém do mínimo, ou pouco além do máximo normal.

Determinação do intervalo de referência
Os intervalos nos quais nos baseamos para julgar se um resultado é “normal” ou alterado são obtidos por métodos estatísticos apurados e hoje aceitos pela comunidade científica de patologistas clínicos. Baseam-se na realização de análises em população livre de doenças que possam alterar o teste que está sendo definido. Os resultados são tratados estatisticamente, determinando-se a média e o desvio padão. O intervalo de referência corresponde a uma faixa que engloba de -2 a +2 desvios padrões da média (curva de Gauss). Conceitualmente, 95% da população normal estará nessa faixa. Isto quer dizer também que haverá 2,5% das pessoas normais com resultados a menos da faixa de referência e mais 2,5% com resultados acima dessa faixa. Esses 5% são indivíduos normais, com resultado “anormal”, o que pode ocasionar erros de interpretação. Isso é chamado de "cilada da estatística gaussiana".

Alguns fatores são influentes na determinação do intervalo de referência
• O mais importante deles é o método de análise e o modo de padronização, particularmente para os testes enzimáticos e os imunológicos.
• A seleção da população “normal” é também muito importante. Fatores como idade, sexo, raça, dieta, hábitos pessoais (ex. consumo de álcool, tabagismo) e exercícios influenciam os valores.
• Os procedimentos estatísticos escolhidos para o tratamento dos dados.
As múltiplas variáveis que intervêm na determinação dos intervalos de referência explicam porque existem diferenças entre resultados de exames de um mesmo paciente e um mesmo analito, quando são realizados em dois laboratórios. Muitas vezes foram empregados métodos diferentes.

Como o clínico deve agir
O clínico deve procurar conhecer o método empregado pelo laboratório para o exame em questão, além do intervalo de referência para o mesmo. Cabe ao laboratório informar esse intervalo, em todos os resultados, mesmo que isso pareça redundante, como para exames comuns. O clínico não deve se basear em tabelas genéricas de valores normais. A persistência nesse hábito pode ocasionar erros grosseiros de interpretação do resultado do paciente.

Controle de qualidade
Quando o laboratório fornece um resultado para o nosso cliente, entenda-se que está expressando o resultado final de uma análise que procurou identificar o desconhecido. Se o laboratório está correto, depende se todo o processamento da análise ocorreu livre de perturbações de diversas naturezas, que não cabe especificar aqui. O resultado apresentado expressa um valor provavelmente correto. O clínico confia no resultado, se confia no laboratório.
Nos dias de hoje, mais que uma relação de confiança que tem determinantes abstratos, o clínico deve buscar referências mais claras de que o laboratório tem competência para identificar as condições fisiológicas e patológicas do paciente. Deve haver um preciso controle de qualidade por parte do laboratório. Já não basta que o patologista responsável diga que o resultado está correto. É necessário demonstrar que seu sistema de análise é bom com amostras de valores conhecidos (soro controle) e que por analogia funciona bem para com a amostra do paciente, que era anteriormente desconhecida. O conhecimento científico da atualidade possibilita o uso de técnicas para o alcance de grande grau de certeza nos resultados nas análises de laboratório.
Existem diversos mecanismos de controle de qualidade que devem ser empregados pelos laboratórios de patologia clínica. Procure saber se o laboratório que realiza os exames de seus clientes realiza também o controle da qualidade. É muito importante para o seu cliente e para você.

Autor:Prof. Sílvio de Almeida Basques
Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG

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